sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Dois meses depois...

Meu Francisquinho,
é tão horrível tudo isto que nos está a acontecer. Não é justo ainda não te terem deixado em paz, depois de todo o sofrimento que passaste, eu passei, o papá passou. Sentimos tanto a tua falta. O tempo está a ajudar a amenizar a dor, ajuda a recordar todos os bons momentos que passei quando ainda estavas dentro de mim. Esta semana disseram-me que a gravidez é um mistério, e é, como é possível gerar dentro de nós um ser? Eu gerei-te, com tanto, mas tanto amor. Há coisas que ainda hoje eu não me consigo perdoar, há tanta coisa que eu queria mudar e não posso. Tanta gente que te quis conhecer, tanta gente que te amou mesmo antes de nasceres, tão desejado... Eu sei que brevemente estarás bem nas mãos de Deus, onde eu sempre pensei que já estarias, mas este mundo cruel não está a permitir que tenhas descanso. Tantos incompetentes que tomaram conta de ti, como pude eu deixar? Eu fiz aquilo que achei que seria o melhor, para ti, para mim, para todos. 
Eu ainda choro de saudade, mas menos, cada vez menos, porque quero sorrir contigo, quero continuar a olhar para o céu e saber que ainda estás lá. Sabes, a prima Nair disse-me que te viu: "Eu ontem vi o Kikinho nas estrelas!", pergunta-me tanto por ti, por vezes não sei o que responder. Queria tanto ouvir-te chorar agora, não me importava nada de passar noites em branco a ouvir-te chorar. Tudo seria mais fácil se estivesses comigo. Mas Deus sabe o que fez, e sabe o que está a fazer agora. Eu e o o papá sempre prometemos que nada te faltaria, não estás aqui, mas podes ter a certeza que vamos lutar até ao fim para que tudo isto fique resolvido e tu possas estar em paz. 
Perdoa-me se não faço o suficiente, ou se não faço o que está certo, eu esforço-me tanto. Sinto-me tão perdida, não sei para onde me hei-de virar, não sei se faço as coisas certas ou erradas, mas eu vou arriscar, por ti eu faço tudo e vou lutar até ao último batimento cardíaco, porque és a minha prioridade, e mesmo que não entendam a minha necessidade de o fazer, eu fazê-lo-ei. 
Tenho tantas saudades meu filho, estarias agora a fazer dois meses. Perdi toda a oportunidade de te ver crescer perfeito e saudável. Agora tudo é mais complicado para a mamã voltar a engravidar e dar-te um irmão. Será que as coisas más não param de acontecer?
Espero que te dêem descanso brevemente para que eu fique descansada sabendo que estás em paz.
Prometo não abandonar, muito menos desistir disto. Vou lutar meu amor, prometo!
Amo-te mais do que à minha própria vida, e o papá também! Eu sei que ele não fala tanto contigo como eu, mas tu sabes que ele sente tanto a tua falta como eu...
Meu filho.


Um comentário:

Ana disse...

Não sei o que te diga... estou com as lágrimas nos olhos. Sigo-te no facebook mas ainda não conhecia o teu blog.
Ninguém merece passar por uma dor destas. Ninguém....
Muita força.
bj grd