quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Entre tristezas e processos!

Realmente quando um problema aparece nunca vem sozinho. Passei por uma fase terrível na minha vida, a perda de um filho, a maior dor e angústia que alguma vez posso sentir. Quando o Francisco nasceu, pensei que a melhor solução seria a doação do corpo, isto porque sempre fui a favor das doações de órgãos e tudo o que possa ser reunido para estudo. Nunca eu pensei que, uma simples doação pudesse trazer tantos contratempos e confusões. Logo na primeira semana após o seu nascimento, recebi uma chamada da morgue de Braga a fazerem-me uma pergunta terrível: "O que fazemos com o corpo do seu filho?", confesso, na altura a pergunta não me pareceu tão má quanto é agora, depois deste tempo. Respondi de imediato que teriam de contactar o hospital de Famalicão porque foi lá que tratei de todos os procedimentos, assim como a autorização para a doação do corpo. Depois disso, nada me foi dito e pensei sempre que o assunto estaria resolvido e não teria mais de me preocupar. Queria sofrer tudo, queria ficar descansada, principalmente ao saber que o meu filho estaria bem agora nas mãos de Deus, sem mais sofrimento, sem mais problemas, com tudo resolvido. Mas não foi assim, passado, exactamente um mês fui novamente contactada com a mesma pergunta: "O que fazemos com o corpo do seu filho?" Como é possível passado este tempo, passado um mês ainda estarem com o caso parado e nada terem feito com o meu bebé? Não consegui responder a essa pergunta, desta vez teria sido o hospital de Famalicão, e apenas me disseram que me deveria dirigir à Universidade do Minho para resolver o assunto, pois passado este tempo, um mês, a doação estaria fora de questão porque o corpo já não é aceite. Assim o fiz, depois de passar uma noite no hospital (devido ao inico da trombose), dirigi-me à Universidade do Minho, em Braga, ao que me foi dito que nada sabiam deste caso, que realmente teria passado por lá um corpo de um recém nascido, mas não faziam ideia do que se tratavam. Como é possível? Falam com tanta naturalidade de passar um corpo pelas mãos sem saberem a quem pertence. Fiquei revoltada. Este país anda a brincar com os sentimentos das pessoas. Fiquei sem saber o que fazer, na minha cabeça só me perguntava, se realmente o corpo teria de ser doado, porque não ficou ali? Pior, como é possível não saberem a quem pertence aquele corpo? Deixei a Universidade com a promessa que me voltavam a contactar sobre o assunto. Novamente, nada me disseram, mais umas semanas passou, e agora, passados quase dois meses voltei a receber uma chamada exactamente com a mesma pergunta: "O que fazemos com o corpo do seu filho?", NÃO, agora é demais, agora não vou ficar parada por isto chegou longe demais, agora tenho mesmo de me dirigir a tudo onde é sítio e saber o que se passa realmente. E assim foi, como tenho todas as segundas feiras de estar a manhã inteira no Hospital de Braga, fui à casa Mortuária para saber o que se passava. "Têm de fazer o funeral ao vosso filho, senão o Ministério Público cai em cima de vocês!" O quê? Funeral? Depois de ter assinado documentos com autorizações para doar o corpo? Depois do meu marido vir de propósito de França para assinar a mesma autorização? Depois de quase dois meses dizem-me que tenho de fazer um funeral? Revoltei-me, disse que não o faria porque assinei tudo para que o corpo fosse doado, e que passados estes dois meses, vinham voltar a trazer sofrimento aos nossos corações! Não sabia o que dizer, eles tinham de resolver este problema. Mandaram-me ao hospital de Famalicão falar com a directora da Obstetrícia / Ginecologia para tentar perceber o que se passa. Assim o fiz logo de seguida. Mais uma vez, fiquei estupefacta com a resposta de uma directora: "Não sei o que vos fazer, têm de resolver o problema não têm outra opção. O ideal é até contratarem um cangalheiro e meterem o corpo lá dentro!" Olhei para o Fábio e não acreditei na resposta de uma directora de hospital, deveria estar a sonhar certamente porque aquilo não poderia ser palavras certas. Abrir buracos? Atirar o corpo lá para dentro? Em que mundo estamos afinal? 
No fim do dia, fui a uma agência funerária, nós não sabíamos o que havíamos de fazer com este grande problema, mas, como pode ser? Temos as autorizações de uma coisa e no fim deste tempo temos de fazer uma coisa completamente diferente? O agente funerário aconselhou-nos colocar um processo aos hospitais por negligência, é muito grave o que eles fizeram. Ligamos a um advogado e o mesmo nos disseram. No momento, entramos no dilema, fazemos o funeral e o assunto fica encerrado, ou entramos com um processo e não deixamos passar em branco todos estes negligentes, todos estes irresponsáveis pelos erros que cometeram. E a segunda opção foi escolhida, marcamos uma reunião com uma advogada, e demos início a um processo que se avizinha ser longo e muito duro. O sofrimento nunca mais vai acabar, e vamos andar sempre nesta roda viva até tudo acabar. O meu bebé continua ali, sem destino, sem rumo. Não deram um fim à alma de um pobre ser indefeso, pior do que isso, andaram este tempo todo a brincar com os nossos sentimentos, e a ignorar um caso que agora se tornou muito, muito grave.  
Tudo começou em Guimarães, quando me foi negada uma consulta nos últimos dias de gravidez, onde o meu filho já não tinha vida no meu ventre. Continuou com um hospital que mandou o corpo para o hospital errado. No fim de contas, ninguém aceitou o corpo do meu filho, e ninguém assume as culpas!
Vou lutar, ai acreditem que isto não vai passar em branco. Eu irei procurar forças onde não as encontrar, mas podem ter a certeza que o meu filho vai ter um fim digno, mesmo depois de vida sofre com as irresponsabilidades das outras pessoas. País sem jeito, país incompetente. Formam-se, ingressam no ensino superior para serem incompetentes. 

França, vou ou fico? Agora aparecem tantas dúvidas, não consigo abandonar o país e deixar o caso para trás, sinto que estou a ignorar o meu filho e a não dar a atenção que precisa. Fico, tenho de começar tudo de novo. Já não sei mais para onde me hei de virar. As respostas demoram a aparecer.

Que os meus erros sejam as lições de alguém!

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