sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Diário de um tratamento...

29 Setembro 2014
O primeiro dia de internamento. Fiquei assustada quando olhei para a cama onde fiquei. Não saber que é mesmo o melhor para mim. Mandaram-me de imediato deitar e descansar a perna. Pensei logo, descansar mais? Já não posso mais… a partir das 15h30 colocaram-me com um medicamento através do cateter, Heparina, é parecido com o Varfine, a diferença é que este é diretamente introduzido nas veias tendo um resultado mais eficaz (espero eu). Tenho duas colegas na enfermaria, uma já bastante adulta, outra praticamente da minha idade (vinte e oito anos). Acham que a vossa vida é complicada, e querem desistir? Imaginem uma rapariga de vinte e oito anos que fará amanha a 21ª operação. É verdade, até eu parei de me queixar e levar este problema mais na desportiva (como ela costuma dizer), tem vários problemas de saúde, começando com uma deficiência nos pés. Tem apenas um rim e está à espera para fazer um transplante. Tem um problema de estômago, porque lhe rebentou uma artéria, já teve uma tromboflabite aos onze anos, tem problemas de coração, entre outros… Vários dos motivos das operações eu gostava de referir, mas acreditem que muitos nomes ficaram pelo caminho. Mas, se olharem para a rapariga, apesar de notarem que tem problemas, leva a vida com um enorme sorriso. Uma verdadeira lição de vida, principalmente para mim que estava com tanto medo de ficar cá, e com uma coisa muito mais simples…
O primeiro dia passou, com uma enorme ansiedade, por estar ligada a uma máquina e não poder andar. As necessidades eram feitas numa paradeira o que me deixava constrangida, é horrível pronto.
Passei mal a noite, tive bastantes cólicas, entre o livro e a televisão, o dia passou. Amanhã será melhor.


30 Setembro 2014
Segundo dia, tive tanta vontade de arrancar estes tubos fora. De manhã tomei o pequeno-almoço, cházinho e pão com manteiga e fui ao banho. Como habitual, mediram-me as tensões e fizeram as perguntas para saber como me sentia. Menti, disse que estava bem, mas a minha vontade é de fugir daqui… Disseram-me que me iriam colocar uma meia na perna para ajudar a comprimir, ou seja, faz compressão sobre a mesma para que o sangue possa circular melhor, Mais uma máquina para me ligar, não haveria mais nada? Os primeiros momentos foram muito estranhos, mas lá me fui habituando ao facto da minha perna estar constantemente a ser apertada. Ao fim do dia, quando me “soltei” para ir à casa de banho, o desinchado já tinha ido embora, boa, uma máquina que fez um milagre, consegui caminhar tão bem que pensei logo que me iam mandar embora… mentira, não pensei nada…
Foi um dia calmo, tirar sangue, fazer controlo, aumentaram-me a dose de heparina, o sangue estava a 1.54… Fiquei chateada, então um medicamento que supostamente é mais eficaz e o sangue fica pior? Não entendo. As enfermeiras disseram que era normal porque vou ter sempre altos e baixos. Mas achei estranho quando me mandaram fazer o controlo duas vezes no mesmo dia, mas dizerem-me o resultado nunca mais disseram…
O Fábio esteve cá hoje, felizmente, trouxe-me o livro “aceita e sorri”, da Vanessa, a mãe da Nonô, já terminei de ler o livro “As filhas do assassino”… uma boa forma de eu ler os livros de um dia para o outro. MAS NÃO QUERO ESTAR MAIS INTERNADA…




1 Outubro 2014
Passaram mais ou menos dois dias, parece que já passou um mês, ora eu passar a transição do mês numa cama de hospital. Mais um dia calmo, logo de manhã acabei de ler o livro, não sei mas acho que bati o meu recorde. Este ano já “comi” quatro livros, e estou mortinha para que me apareçam mais à frente. Nunca pensei que tivesse tanta paixão por palavras, como dá para perceber…
Bem, mais um dia, com controlos de sangue, e tudo normalmente, não me dizem o resultado do controlo, sempre que eu peço dizem “vou ver e já lhe digo” e desaparecem. O Fábio voltou cá e trouxe-me o pc, boa, já não vou apanhar seca depois de ler dois livros e não ter mais nada para fazer… A Paula, a menina que estava comigo na enfermaria teve alta, menos uma pessoa para conversar… Foi um dia em que muita gente teve alta, menos eu, que continuo aqui! A cama vazia deu lugar a mais uma senhora, praticamente da idade da minha avó. Uma coisa que me está a fazer maravilhas aqui é conversar com pessoas mais velhas, aprendo, e só me faz bem. Mas continuo a querer ir embora… estou tão triste de estar aqui, em casa descansava melhor… o Fábio amanhã não vem porque chegam as nossas coisas de França…
A noite passada dormi mais ou menos, e hoje? Será que vou conseguir dormir alguma coisa?




2 Outubro 2014
Nunca mais saio daqui, o médico disse que só Segunda-feira. Será que eles não percebem que eu posso perfeitamente descansar em casa? A senhora que entrou comigo na segunda teve alta hoje, e eu cá fico, mais uma vez… vejo tanta gente a ter alta e eu a ficar para trás. Oh, eu sei que é o melhor para mim, e que tudo isto é para o meu bem, mas não é nada fácil estar aqui. Os médicos acham piada quando eu digo que descanso em casa, não entendo porquê, ou se calhar entendo… um até me disse que basta olhar para o estado da minha perna quando eu cheguei para perceber que não teve descanso nenhum. Mas pronto.
O Fábio hoje não me veio visitar porque as nossas coisas chegaram hoje de França. Senti-me mais sozinha, apesar de ele ter me deixado cá o computador a companhia é mais importante. Como a outra senhora foi embora veio outra. Tenho tanta pena dela, tem diabetes e já amputou um pé e está com o dedo grande do pé em mau estado também. Estas coisas custam-me muito… Estou constipada, acho que esta “estadia” vai deixar-me mais cansada do que descansada…
Já há sinais de melhoras… amanhã é outro dia!

3 Outubro 2014
TENHO ALTA! Oh estou tão contente. Esta noite acordei as 3 horas da manhã porque acabou a heparina, estava a dormir tão bem. Percebi logo que a minha constipação tinha passado a gripe e estava completamente transpirada, com dores de cabeça., garganta, fui à casa de banho e ups! Uma tontura… boa Carla, já levas uma gripe como prémio de MAU comportamento. De manhã os médicos tiveram de reunir para decidir, uns diziam que tinha alta, outros que eram muito cedo. Comecei a rezar porque tudo o que eu queria era ir embora.
E pronto, mandaram-me embora com medicação, Sintrom para substituir o varfine, e mais injeções como fiz ao início quando apareceu a trombose.


Quero agradecer a toda a equipa médica e de enfermeiros por tudo o que fizeram por mim nestes dias, nem sei como tiveram paciência para aturar os meus “quero ir embora”, e as minhas perguntas chatas. Obrigada a todas as pessoas que se preocuparam comigo, pelas mensagens e carinho. Obrigada a mim que me fez perceber quem realmente se preocupa comigo… E obrigada a Deus que está sempre do meu lado…

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