terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Há um ano atrás...parte #2

Em França era normal o frio, a chuva nunca era constante, sabem aquela chuva chamada molha tolos? Era só disso que naquele dia de Dezembro se sentia. O céu não brilhava, mas o meu coração começou a palpitar mais forte ainda quando desci do autocarro. O 407 era o mais próximo que poderia me levar ao centro de acolhimento maternal (PMI como é chamado lá). Estava nervosa confesso, mas também ansiosa. O dia anterior tinha sido marcado por uma nostalgia que nem sei explicar, e o Fábio conseguiu ficar tão confuso quanto eu, aquele teste parecia mesmo dos chineses, as cores começaram a desaparecer. Sim, hoje sei que é normal, mas têm de compreender que o desaparecimento dos tracinhos cor-de-rosa só nos deixou mais confusos ainda.
A língua nunca foi um grande entrave para mim, tinha as minhas dificuldades como qualquer outra pessoa emigrada no primeiro ano, mas assim que entrei no centro as palavras fluíram-me com uma enorme naturalidade. Tremi quando fiz xixi no copo (peço desculpa a linguagem), lembro-me de começar a suar pelas mãos e estas ficaram completamente geladas. Meu Deus, estava com tantos nervos, não sabia se ria se chorava. A senhora que lá estava dirigiu-se a mim muito séria, pronto, o teste dos chineses estava mesmo errado e ela vai dizer-me que deu negativo. Muito simpática conversou comigo e perguntou-me se eu queria muito ter um filho, o que eu fazia, o meu marido, perguntas às quais eu achei tão estranho, mas respondi a tudo certinho porque já estava a perder o entusiasmo. "Vous êtes enceinte"!! Ok, não percebi bem pode repetir... Eu queria tanto que ela dissesse aquela frase que nem consegui acreditar nela. Simplesmente sorri. Eu sei que não sou muito dada ao sentimento, mas realmente aquela notícia deixava-me feliz mas sem reacção... 
Depois de uma longa conversa com as senhoras do centro, saí e liguei ao meu pai. Também não entendo o porquê de ter sido ele o primeiro a saber, mas a verdade é que foi o primeiro que me ocorreu contar. Prefiro não falar da sua reacção, nem da história que por trás de tudo isto existiu. Já em casa liguei à minha mãe, e não esperei que o Fábio chegasse a casa para contar, ele ficou tão feliz...  Assim que ele chegou abraçou-me, mas não teve coragem de tocar na minha barriga! Não pensou duas vezes em ligar novamente à minha mãe (apesar de ela já saber), assim como os pais dele.
Agora, não sabíamos como estava o nosso pequeno bebé, não sabia de quanto tempo estava, como estava nada, e essa era a próxima etapa. Faltava apenas uma semana para o Natal, então tomamos a decisão de esperar por essa data para saber como estávamos...

Continua.


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