quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

"Não fujas dos teus medos! Relaciona-te com eles."

 Acontece-me sempre depois e ler um livro ou ver uma série ficar incumbida de um sentimento de vazio. Penso demasiado. Idealizo muitas coisas, mas sou muito retrospectiva. Em relação aos livros, absorvo tanto cada palavra que chego a passar dias a pensar nas ligações que trazem a minha vida. Claro está que depende muito do conteúdo.

Ter lido sobre saúde mental abriu uma porta no meu imaginário mas também na minha vontade de chegar aqui. Já se tornou num tema que dou bastante ênfase, mais ainda depois de ler e de me rever em tantos aspectos. O principal de todos: o medo!

Pelo medo não vivemos.

Ter descoberto em mim uma perturbação de ansiedade à dois anos foi descobrir muitas lacunas nas minhas atitudes com a vida.

O primeiro ataque de pânico que tive, numa mesa de restaurante, a almoçar com amigas, num momento tão tranquilo e calmo, só me fez perceber que o controlo que temos sob o nosso corpo requer muito trabalho. Aquele sentimento de medo, de morte iminente é desesperante, e tentar viver com ele, ou pelo menos lidar com ele, é desafiante.

Sem darmos conta vivemos em constante ansiedade, pelas diversas situações do nosso dia a dia, ou até mesmo pela espera de algum acontecimento que tenhamos para chegar. Mas viver com ansiedade sobre o futuro… É viver numa espécie de montanha russa a alta velocidade sem conseguirmos apreciar a vista. É aumentarmos a velocidade da rota para 1.5x, quando não chega a ser a 2.0x! Acontece-me tantas vezes chegar a um determinado dia da semana e achar que ainda não tinha vivido nada, não me lembrar dos dias a passar, não saber aproveitar cada momento que tenho o privilegio de respirar. É angustiante, triste...

Nestes últimos meses tenho sentido a minha vida assim, a andar e eu no mesmo sitio. Deixei doze meses da minha vida passarem num estalar de dedos e acomodei-me aquilo que achei que seria mais fácil para mim. Sempre com a desculpa que tudo seria mais fácil para o meu filho. Que mais podemos dar aos nossos filhos senão a nossa felicidade? Se estivermos bem, felizes iremos fazê-los ainda mais felizes certo? 

Tive medo de arriscar, de ir à luta, e em certos momentos achei mesmo que eu não era suficientemente competente para executar determinadas coisas. Por medo... Este medo de falhar, medo das represálias, medo do que iam dizer sobre mim e o meu trabalho.

E por medo desisti… Mais uma vez.

Aí acomodei-me e deixei o medo vencer-me.

Uma das coisas que aprendemos nas consultas com a psicóloga é lutar contra o medo, e principalmente fazer-nos ver as capacidades que temos para nos erguer e lutar sempre, seja por aquilo que realmente queremos, seja pela nossa felicidade. Mas sermos abatidos por ele, é morrermos um bocadinho todos os dias.

Estou a tentar reerguer-me e voltar a lutar. As vezes que forem necessárias. Porque sem os erros também não iremos aprender que o caminho para a direita pode ser melhor que o da esquerda.

Com isto, vou andar de mãos dadas com o  meu medo de falhar, não vou fugir dele.







"Não somos a ansiedade. Não somos o medo, as dúvidas, as noites sem dormir, o choro. Não somos a perturbação obsessiva, a depressão, a síndrome de pânico, qualquer outra fobia ou condição. Somos muito mais do que um diagnóstico. Somos a soma de experiências, de atitudes, de vivências, de relacionamentos connosco, com os outros e com o mundo." António Raminhos