segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Sonhar

A breve reflexão da vida passa essencialmente pela introspecção, pelo culminar de tudo o que passou, da dúvida se fizemos as coisas certas nos momentos certos, se escolhemos as pessoas corretas para nos acompanharem nesta caminhada da vida. Temos medo do que já vivemos, mesmo que já tenha passado, porque o medo, esse sentimento de segurança máxima que se apodera de nós de cada vez que o nosso pensamento viaja, estará sempre presente, mesmo no passado.

Não vivemos o amor que queríamos e deixamo-nos levar pelo amor que aconteceu. Abraços que se perderam pelo caminho, beijos esquecidos, momentos que não aconteceram. A vida passa num ápice e vivemos a correr. Muitas vezes esquecemo-nos de viver tão preocupados que estamos em sobreviver. 

Mas em tantos dias que acordamos, um deles deixamo-nos sonhar acordados. Imaginar a vida que não temos, as pessoas que não temos, as coisas que não temos, enfim, o que não somos. Pensamos nos beijos que poderíamos dar, até mesmo no abraço que reconfortaria o nosso coração por breves segundos. Deixamos, por vezes, de lutar por alguém, ou por alguma coisa pelo medo de não conseguir ter, de não conseguir viver, lá está, o medo…

Engana-se quem diz não ter medo.

Perco-me no olhar que se cruza, como na melodia das conversas. Nos sorrisos escondidos, como nas gargalhadas abafadas nos barulhos da rua. Deixo-me ir pelos inúmeros pensamentos que me surgem e me fazem sonhar acordada. Porque viver é dar oportunidade de sonhar. Há dias que anseio que chegue aquilo que nunca pensei sequer ter, como nos abraços que me faltam coragem para dar, os beijos esses, vou continuar a sonhar com eles, acordada.

Sonhar será sempre o combustível da vida. Será sempre a esperança.

"O sonho comanda a vida."



quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Abençoados...

 …sejamos por tão afortunados sermos. Por abrirmos os olhos, por respirar, por sermos livres e ter o poder de amar e ser amados. Tristes daqueles que vivem presos na imensidão do escuro, que não viram a luz do dia, que não viram o brilho dos sorrisos que iriam provocar. Gratidão por viver, por dar vida, por ser feliz. 

Torna-se ínfimo protestar contra tanta coisa na nossa vida. Ora acordamos cedo para ir trabalhar, o nosso filho chora toda a noite não me deixa descansar, o meu filho quer brincar a toda a hora, o meu filho faz birras, trabalho e nunca tenho dinheiro, o meu companheiro não me dá atenção nem valor, o gasóleo está caro, as coisas estão cada vez mais caras, o covid não nos deixa aproveitar nada, quero sair à noite mas tenho filhos, estou farta desta vida monótona, estou farta de ter contas para pagar, estou farta… Quantas desculpas destas usamos todos os dias? Quantas vezes reclamamos da nossa vida? Quantas vezes invejamos a vida do outro? Quantas vezes? Tantas. Muitas. Sempre. A toda a hora. E porquê? Para quê? 

Esquecemo-nos do quão sortudos somos por acordarmos, por respirarmos e por sermos livres. 

Tornou-se então numa complexidade de palavras usadas para dizer o óbvio.

E então, como é a vida da mãe que perde um filho? Quais são as desculpas que se usa para reclamar de tudo?

Torna-se num colo vazio, numa ausência de choro, numa ânsia de brinquedos espalhados pela casa, de uma parede demasiado branca, de noites serenas, de silêncio à mesa, falta de conversas com as amigas que já são mães, uma tristeza escondida, uma lágrima presa, um choro contido, um coração despedaçado, uma escuridão tremenda e uma capa protectora. 

Engana-se quem pensa que os sorrisos transparecem tudo aquilo que sentimos. Quantos sorrisos escondem lágrimas? Quantas gargalhadas omitem o som do choro compulsivo? Quantos silêncios são assombrados pelo barulho dos pensamentos?

Eu digo-vos…

Acordar num dia após perder um filho, é acordar numa realidade paralela aquela que nos habituamos a viver. É perceber que podemos planear tudo ao pormenor, que nenhum detalhe vai ser tão importante como o da presença. 

Mas acordar um dia após ter um outro filho, é acreditar que o arco íris nasce para nos fazer crer que vai ficar tudo bem. Que o colo vazio não pode ser ocupado por outra criança, mas preenchido num outro lugar. Que o coração despedaçado em mil pedaços, recompõe-se mas continua cicatrizado, com aquela cicatriz bem visível por trás de um sorriso capaz de contagiar. É sobretudo acreditar que um pequeno ser gerado por nós, tão pequeno e indefeso vem justamente a este mundo para nos dar luz no meio da escuridão em que nos fechamos. A luz, o brilho, o novo dia, a nova vida, a nova razão para acordar cedo e batalhar, ele veio nos salvar, o nosso Salvador.

E aqui estou, sete anos depois… Com o coração cicatrizado, curado com um novo amor, a ansiar sempre que tivesse acordado de um pesadelo. Mas é a realidade, a minha realidade. E tão abençoada sou por hoje o ter, nos meus braços, no meu colo, no meu coração, na minha vida. Afortunada de mim, que tenho a bênção de o ver crescer, saudável. 

Só tenho motivos para agradecer, mesmo que a vida me tenha ensinado o contrário. Gratidão por viver e dar vida. Apenas isso…

E hoje, o destino assim o quis que eu estivesse ali, a ouvir palavras que me foram tão familiares, a ver o sofrimento noutros olhos, a fazer me perceber do quão grata tenho de ser!


Ele nasceu de mim, e eu renasci com ele…





domingo, 21 de novembro de 2021

Acreditei ou desisti?

Há uns tempos, escrevi um texto sobre acreditar. Acreditar que algo melhor estava para chegar, algo que me fosse preencher, mas sobretudo fazer feliz. 

Foi à dois anos atrás, e entre tantas coisas que foram acontecendo, entre tropeços e alguns dissabores, acreditei bem pois vivi e tive oportunidade de experimentar coisas fantásticas, conhecer pessoas que vou certamente levar para a vida e viver intensamente.

Com a chegada do covid, os confinamentos e tantas privações que tivemos de todos passar, acreditei sempre que a vida não me ia deixar em vão, deixar de acreditar que ainda mais coisas estavam para chegar e que todos os objetivos iriam ser cumpridos no prazo certo. Mania esta que temos de dar tempo a tudo, o querer ser alguém numa determinada profissão a uns certos anos, como ser mãe mais uma vez antes dos trinta (o meu objetivo que claramente não foi cumprido), o que é planeado nem sempre corre nos tempos certos, eu encaixo-me a 1000%.

Chegou então a altura de vivermos mais livremente, e eu deixei de acreditar que deveria lutar por aquilo que sempre quis, mas sim acreditar que a minha felicidade não passa por ser alguém, mas por estar presente. Pergunto-me, deixei de acreditar ou simplesmente desisti? Abdiquei de tanta coisa para estar presente a 100% para o Salvador, para estar sempre presente para o Fábio, para não abdicar de mais nenhuma festa, mais nenhum momento importante. E assusto-me!! Tudo aquilo que sempre fui contra as pessoas fazerem, a eu fazer, acomodar-me a uma determinada coisa, assusta-me imenso. Por eles, sempre por eles. Mesmo que considere que isso me faz feliz, porque a família para mim será sempre a minha base, e sem esta forte estrutura não me seguro firmemente em tudo aquilo que tento construir. Mas por eles, sempre.

Continuo a acreditar que a vida tem coisas maravilhosas reservadas para mim, e mesmo que os meus objetivos profissionais simplesmente caíram por terra, há outro que falta cumprir, e resta-me simplesmente dizer que chegou a hora de mais uma vez arregaçar as mangas e lutar. Porque a verdadeira luta começa agora.


Lutem, acreditem. SEMPRE.