domingo, 22 de novembro de 2020

Refletir. Sentir.

 Na minha cabeça pairam memórias envoltas de estrelas e balões prestes a rebentar. Momentos, gargalhadas, algumas lágrimas à mistura, vozes que pairam, giram e me percorrem. Há um abraço que eu não esqueço, há cheios e sabores que se ligam a mim de uma forma, que os procuro infinitamente, mas não os encontro. Há um caminho, será que tem uma saída?

Há uma incerteza que fica, uma certeza que chega, uma indecisão no meio das decisões que tenho de tomar. Há uma história contada por entre linhas e textos espalhados pela casa, mas as histórias que ainda estão por escrever, essas corroem o coração e acelera os meus batimentos.

No meio da confusão chega o presente, a vida que vivo todos os dias, na correria de uma maresia que me afunda no aconchego da noite. Espera. Respira. Fecha os olhos e continua. Continuar será sempre o objetivo. Vencer é o propósito.

Sentir.

Simplesmente.


domingo, 15 de novembro de 2020

Borboletas no cérebro

 Que ano mais merdoso. 

Que pessoas mais atormentadas pelo medo. Que espirito negativo, preto, preso pelo rabo. 

Situação descontrolada esta. O mundo está a ser tomado e não é só por uma pandemia. 

Sou das que acredita muito, realmente anda por aí algo que ataca sem darmos conta e mata num ápice. Mas pior do que o covid-19 é o medo. O medo de sermos apanhados ou que apanhe aqueles que amamos. O medo de morrer com isto. Ah sim, também faço parte desse aglomerado de pessoas. Mas porquê tudo isto? Porquê deixarmo-nos consumir pelo medo, pelo pânico, pela insegurança tal de sair de casa. Porquê continuar a ver jornalixo? Porquê continuar a ouvir a história daqueles que morrem e não daqueles que saíram vitoriosos? Porquê privar as nossas crianças de viverem? De serem felizes? Porquê esquecerem-se de prestar cuidados às outras doenças que já existem à tantos anos? Porquê contribuir para esta massificação de mortes todas pelo mesmo motivo? Quando na realidade não é sequer o motivo.

Tantas perguntas sem resposta...

Tantas borboletas a viajarem pelo nosso cérebro.

Também faço parte do grupo de pessoas que decidiu este ano caótico desenvolver um tipo de perturbação mental para mais tarde recordar. Porque é mesmo isso que vai acontecer. O pós covid, se é que vou estar aqui para contar a história porque já não sei nada de nada, vai deixar-nos sequelas mentais que vai nos impossibilitar de viver. E isto é tão triste.

Começo a sentir-me à parte do mundo. Não consigo ver estas crianças a não saberem sequer o que é viver a sério, confinados ao exterior, ao respirar dos parques, as festas de aniversários dos amigos, as visitas aos avós, as férias em familia. Que recordações vão ter elas no futuro?

Estou triste por eles.

Mas feliz por conseguir fazer feliz o meu filho e tentar criar-lhe outro tipo de memórias.

Mas não as memórias que eu gostava...


Protejam-se!


    Beijinhos

Carla Salgado

domingo, 26 de abril de 2020

Estado de espírito: ?

Já se passaram quarenta e seis dias de quarentena. Sim, dei-me ao trabalho de os contar. 
Com eles aprendi muita coisa. Descobri-me. Tomei decisões. Renasci. E ainda não sei quantos mais dias se irão passar. 
Aprendi a viver confinada a determinadas coisas, a determinados sentimentos, e atenção que isto é muito vago, os sentimentos tanto podem ser positivos como negativos. Aprendi a suportar tantos estados de espírito juntos que nem eu própria sabia que existiam. Não sabia que podia acordar bem disposta e adormecer depois de ter tido um ou dois ataques de ansiedade. Não sabia que iria conseguir chorar até adormecer por não suportar ver o meu filho implorar por ver os avós... Não sabia que o medo que senti inicialmente iria dar lugar a uma super proteção mas também a uma consciência mais libertadora. 
Descobri que sou mais forte do que penso. Mas não mais do que aparento. Descobri que o meu ar de menina sorridente para a vida é capaz de chorar por simplesmente não poder entrar no carro e ir às compras com normalidade. Descobri que os meus interesses não são aquilo que penso, e que afinal gosto de coisas que não sabia. Descobri que o meu futuro é incerto e que quero continuar a arriscar até não conseguir mais. Descobri que por mais que eu erre quero voltar a tentar. Descobri-me por inteiro!
As decisões mais difíceis de tomar na vida são aquelas que não queremos tomar nunca. Quando temos demasiado tempo damo-nos ao trabalho e à disposição de pensar nelas e por fim, decidir. 
Renasci por me descobrir. 
Li em alguns posts do facebook desabafos das mães que estão em casa com os filhos e graças a Deus que não me sinto mais a pior mãe do mundo. Apesar do Salvador ter apenas três anos, a personalidade forte dele com a minha torna alguns dias uma total explosão de gritaria, birras e discussões. Porque não podemos dizer que estamos cansadas, fartas e exaustas sem alguém nos dizer que existem pessoas piores do que nós? Temos de agradecer como é óbvio de estarmos bem de saúde, no conforto das nossas casas. Mas então deixamos de ser pessoas normais por isso? A profissão de mãe deixou de ter valor? Ou não temos direito a ficar cansadas? Fartas? Pior, nem sequer temos direito a ter liberdade de expressão por nos queixarmos de um sentimento que inevitavelmente se apodera de nós... É triste que só possamos ver o lado das outras pessoas e não pensar um pouco em nós!
Também faço parte do leque de mães que com esta quarentena começou a fazer comida que nunca fez e a descobrir que até tinha jeito mais alguns pratos. Sou daquelas que fez um bolo por semana no primeiro mês e agora descobri que até gosto de passar trinta minutos do dia a pedalar na minha bicicleta que estava a ganhar pó na minha sala. Mas o pior disto tudo, é o meu medo do que esta quarentena está a fazer ao Salvador... O desinteresse pelas atividades propostas pela educadora, o choro e as birras quando lhe tento "ensinar" alguma coisa. O não perguntar porque não vai à escola, nem perguntar pelos amigos... Tenho medo de, certa forma, estar a errar em alguma coisa como mãe.
E não tenho problemas, nem sequer vergonha de admitir os meus erros e de tanto que fraquejei nestes dias como continuo a ceder em algumas coisas... Cedi ao pedido do meu filho ir ver os avós, e mesmo com restrições nós vamos. Se é um ato correto? Claro que não, tenho plena consciência. Sou fraca? Não! Sou humana, e não foi apenas um pedido que me fez ceder, mas sim o meu próprio estado de espírito e a minha forma de encarar estes dias que acreditem, não estão a ser nada fáceis.
Para terminar este meu desabafo, vou me direccionar às redes sociais, que na minha modéstia opinião tornou-se num poço de ódio e rancor uns com os outros em que os adultos decidiram despejar as frustrações desta quarentena uns nos outros. Por favor, não estou a generalizar, nem a apontar o dedo. Mas que ao menos este isolamento / quarentena / obrigação de, sirva para nos tornarmos pessoas melhores, que mais não seja pessoas que conseguem ler e continuar a subir os conteúdos. 
Ainda não sei quantos mais dias vou continuar por aqui...
Ainda não sei como será o futuro...
Nunca irá ser totalmente normal isso é uma facto!
Não sei se quero continuar como estava antes de tudo isto... 
Mas de uma coisa tenho a certeza, vou sair disto com uma perceção diferente de tanta coisa...

Fiquem bem... Dentro do possível...





















Beijinhos,
Carla Salgado

sábado, 28 de março de 2020

Dúvidas?



A incerteza daquilo que vai acontecer amanhã faz renascer algumas dúvidas que eu tenho em relação a hoje. Esta paragem no tempo ao qual fomos literalmente obrigados a fazer faz-me pensar muito sobre muitas coisas, sobre o futuro, sobretudo sobre aquilo que eu quero na realidade fazer. 
Sinto uma certa necessidade de fazer uma introspeção e perceber muitas coisas, mas sabem quando falta algo para o fazer, ou até mesmo um simples motivo? Aquela sensação de que eu sei o que quero na realidade, mas não sei ao mesmo tempo.
Têm sido duas semanas intensas, entre brincadeiras, "trabalhos de casa" da minha afilhada, atenção ao meu príncipe e uns determinados momentos em que me lembro que existo e que preciso dar um verdadeiro rumo à minha vida. 
Já senti em alguns momentos da minha vida que não sei ao certo aquilo que quero fazer, já fiz tanta coisa, já aprendi tanta coisa e fui sempre tão feliz, em determinados lugares mais do que noutros, mas a minha essência permaneceu sempre e soube ser feliz. Mas nunca me senti 100% realizada. Bem, sim, mas num lugar onde é impossível voltar.
No ano passado, quando tomei a decisão de mudar tudo, decidi que terminar o 12º ano era a minha prioridade, muito mais quando apenas me faltaria uma disciplina para o fazer e depois decidir o que fazer na realidade. Inscrevi-me no centro de emprego com esse propósito, fazer um curso de dupla certificação, mas apenas algo que fizesse sentido na minha vida. E assim surgiu o curso Técnico Auxiliar de Saúde com projeção de emprego para o Hospital de Riba de Ave, uma oportunidade única e que senti que tinha de agarrar. E assim o fiz... E assim o estou a fazer... Mas nestes últimos dias, tenho a sensação que o meu lugar é onde eu sempre estive, a fazer aquilo que eu sempre fiz e que me sinto mesmo bem em fazê-lo, que apenas me faltou as oportunidades certas. Nem sei bem porquê. 
A estética... Existiram dias em que acordei e achei mesmo que não era a minha vocação e não era de todo o que eu deveria fazer, mas no fundo, quando o faço, porque felizmente ainda tenho a oportunidade de, em part time, o fazer, sou tão feliz... E vocação, talento, nada coincide com o ser feliz em fazê-lo! 
Acho que este Covid-19 está a deixar-nos a todos com tempo a mais para pensar... E não quero mais uma vez meter os pés pelas mãos... Tenho em mãos uma oportunidade que tenho de agarrar, mesmo sem saber qual o meu futuro... O futuro a Deus pertence não é? 
Estou naqueles dias que não sei se luto ou desisto... 
Dúvidas Ilustrações, Vetores E Clipart De Stock – (1,134 Stock ...E nunca é tarde para lutar por aquilo que nos faz feliz...

Um desabafo no meu 16º dia de quarentena...



















Carla Salgado
















sábado, 21 de março de 2020

Eles.

Estou sentada ao lado do meu filho, no chão da sala. Eu escrevo, ele vê desenhos animados e assim se passa o nono dia de quarentena...
O mais importante não é o que estamos, o que vamos fazer, o importante é com quem, valorizar o prioritário, valorizar as pessoas que estão do nosso lado, que nos fazem bem, que nos fazem felizes.
Hoje é apenas mais um dia do ano dois mil e vinte, certamente o primeiro dia para muita gente, o último para uns outros tantos, mas não deixa de ser um dia ou o dia de podermos fazer alguma coisa diferente, ou a diferença na vida de alguém. É mais um dia em que podemos ser melhores!
O pensamento ofuscante que me percorre nos últimos tempos tem me feito perceber muitas coisas, sobretudo daquilo que é certo e errado, daquilo que faço bem ou não! Tenho atitudes incorretas com as pessoas certas e atitudes corretas com pessoas incertas. Um eufemismo ou não daquilo que as se vai entender! 

Os dias passam a voar, nas rotinas percebemos o tempo que perdemos em não dar tempo ao que realmente importa. Mas será que sabemos ao certo o que realmente importa na nossa vida? Sabemos claro que as pessoas que vivem dentro de nossa casa, a nossa família vale a pena, que com eles temos e devemos "perder tempo", mas a rotina não se divide apenas entre quatro paredes, no nosso dia a dia lidamos com tantas pessoas que não sabemos se essa perca de tempo é relevante ou não. Mas no final pensamos, porque perdemos tempo sequer a pensar nisso? Não sei.
Sabem o que sei? Que eles fazem sentido na minha vida e me fazem perceber que vale a pena perder tempo. O meu tempo são eles. Eles são o meu tempo e a minha vida. E a eles dedico tudo...

Eles.
Os meus homens, os amores da minha vida.

 Carla Salgado

sexta-feira, 20 de março de 2020

Quarentena ou pior do que isso?



Começo a acreditar que em tempos de desespero chego ao meu destino, aqui, o meu lugar favorito, quiçá o único que ainda me deixa ser eu por inteira. 
O meu último post aqui foi em Julho do ano passado. Em tempos a minha vinda para aqui era frequente, diária, até mais do que uma vez por dia. Agora desleixei-me, ainda que a coisa que eu mais goste de fazer seja escrever, os papéis perdidos cá por casa já são muitos. 

Estou à oito dias em quarentena pelos motivos que todo o planeta sabe e não preciso de, mais uma vez, os referir vezes sem conta. No entanto, oito dias parecem poucos para aqueles que eu sei que me esperam pela frente. 
Ainda não tenho uma opinião bem formada sobre este assunto, sobre se foi um "acidente" na China, se foi uma vingança dos EUA, ou feita em laboratório, mas de uma coisa tenho a certeza, este vírus, esta pandemia, esta calamidade que está a roubar tantas vidas é a forma como vamos olhar para o futuro com uma perspectiva diferente, a segunda oportunidade que a vida nos está a dar de sermos mais e melhores, a oportunidade de preservarmos aquilo que é nosso e darmos mais valor à vida, às pessoas e não às coisas que não fazem falta nenhuma.

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Nos últimos tempos tenho me apercebido que cada dia que passa as pessoas se tornam mais materialistas e "umbiguistas", que o poder e o querer ter é muito superior ao dar. E o dar chega um simples abraço, ou dar uma palavra que nos conforte. Dar deixou de ser sentimental e passou ao sentimento de posse, eu não te dou atenção mas dou-te um presente como recompensa. 
Estou à oito dias de quarentena e já vi tanta coisa... A vida está a ensinar-nos a viver de novo, a vida está a abrir-nos um caminho desconhecido. Não é maravilhoso como o planeta está a reagir a este momento? A esta paragem? Não estou imune a acordar amanhã e ser enfrentada com o Covid-19! Tu não estás imune amanhã e ver alguém próximo morrer por isso. Nós não estamos sequer numa bolha em somos imunes ao que se passa à nossa volta. Por isso hoje, somos todos iguais, temos todos o mesmo medo, o mesmo poder...

Quarentena ou pior do que isso?
Vou confessar que estou a entrar em desespero e hoje fraquejei, há dias assim não é? Não temos forças para aguentar todos os dias, também temos de saber lidar com a fraqueza.

Agora, protejam-se, vai tudo ficar bem.


Carla Salgado