quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Ser...

 Percebi que quando tento não escrever sobre mim, as palavras não se soltam nas teclas com tanta facilidade. É como estar a fingir que não escrevo aquilo que realmente estou a sentir. E isso não é, de todo, verdade.

Tenho procurado inspiração para cá vir em tantas coisas. Mas não minto que me sinto sempre retraída quando quero dizer alguma coisa. Há tantos sentimentos ainda presos dentro de mim. E se á uns anos escrevia com tanta facilidade, agora sinto-me um escritor sem inspiração.

A vida tem-me ensinado muito, sobretudo a olhar para a nossa passagem de forma mais tranquila. A entender os propósitos e a lidar com as dificuldades com outro ânimo. Ser mãe ajudou, em todos os aspetos.

Magoa-me ainda perceber que determinadas atitudes minhas são interligadas a um luto, como me magoa saber que uma certa percentagem das pessoas que lidaram comigo não souberam gerir essa situação da melhor forma, ou se calhar lidar comigo da melhor forma.

No entanto, eu tornei-me muito mais do que a mulher que perdeu um filho.

Eu tornei-me numa mulher com mais sonhos, com mais ambições, com mais certezas, mas sobretudo mais feliz. 

Ora vejamos:

Uma crise existencial aos 30 é como não saber qual o sabor do gelado que queremos aos 5 anos.

Todos os dias procuramos respostas para tantas coisas, e tão poucas vezes encontramos o propósito de outras. Recorremos ao método do balde de gelado quando estamos tristes, às musicas melancólicas, com a mesma velocidade como quando colocamos a música alta e dançamos no meio da sala.

Deixamos por fazer tanta coisa, como fazemos tudo no mesmo dia sem nos importar se amanhã iremos ter mais tarefas. 

Amar o Fábio aos 30 não tem nada a ver quando me apaixonei aos 16 anos. E sobre isso, escreverei noutro dia, porque merece destaque numa publicação só.

Ser filha aos 30, bem, ser filha aos 30 é fazer palpitar o coração com medo. Porque sabemos que os anos estão a passar, os dias contam, e viver praticamente 365 dias longe deles torna-se num aperto inexplicável. Sabem o que sinto? Que me estão a largar a mão, e nem a palavra finalmente faz sentido nesta frase. Há sentimentos que abominamos e tentamos nem sequer pensar neles, mas mentiria se não dissesse que tenho tanto medo do amanhã...

Ser mulher aos 30... Tanto para dizer, mas vai ficar para a próxima...


Carla Salgado



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