sexta-feira, 18 de julho de 2014

Nove meses depois...

Gostava de escrever um texto repleto de alegria, gostava que as novidades fossem as melhores e que depois destes nove meses as noticias e as palavras que vou partilhar fossem boas e a que todos esperavam. Mas isso não vai acontecer, não vou fazer um texto só a falar da dor que sinto, porque acho que nem para isso estou preparada... 
Ainda me lembro do mês de Dezembro como se fosse hoje, e acreditem que até sei que foi no dia 14 de Dezembro de 2013 que descobri que estava grávida, ainda me lembro que não queria, por nada deste mundo, fazer o teste de gravidez com medo da resposta, ansiamos tanto ter um filho que se aquele teste desse novamente negativo eu desistia de tentar. Mas não foi o que aconteceu, depois de dois testes e ter descoberto que estava grávida nem consigo dizer o que senti naquele momento, foi tamanha a alegria que não tenho sequer vocabulário para descrever, e a primeira pessoa a quem liguei a contar foi o meu pai, o Fábio teve de esperar que chegasse a casa para saber. A partir daí foram imensos os planos traçados, o que tínhamos de comprar, o que queríamos que ele fosse, a ideia de como ele seria, tanta, mas tanta coisa que falamos a partir daí... No dia 1 de Abril, sim, no dia das mentiras, o dia em que fiz a ecografia e soube que seria um menino, o dia em que nem consegui ter reacção, tantas eram as pessoas que achariam que seria uma menina, e mesmo depois de eu dizer que era um pilas ninguém acreditava.
Ao longo dos meses, e depois de ter decidido vir para Portugal, achei sempre que seria o lugar ideal para ver o meu filho nascer, pensei muito nas outras pessoas e pouco no meu bem estar, pensei que muita gente ficaria feliz por ver o Francisco a nascer perto dos avós.
No aproximar dos meses comecei a sentir medo, não fazia a mínima ideia do que era ter um filho nos braços, pensei sempre que não seria capaz, andava ansiosa, sempre a perguntar coisas, sempre com imensas dúvidas, e sempre com tanta gente a dizer-me que eu era capaz. 
Aconteceu tanta coisa nestes nove meses, discussões, conflitos, não vou dizer que tive uma gravidez serena porque ia mentir. A maior parte do tempo andava cansada e completamente desgastada, foram imensas as vezes que sentia que não era suficientemente apoiada pelas pessoas. Neste momento, não vou sequer pensar no que poderia ter sido ou não, não quero pensar que podia ter evitado muita coisa, quero apenas sentir que fiz tudo o que devia ser feito. O destino está escrito e completamente traçado, e eu não sou ninguém para o apagar, apenas seguir as pegadas que estão á minha frente.
Quando chegou àquele dia, 13 de Julho de 2014 e comecei a sentir as primeiras contracções às 5h da manhã, não me passaria pela cabeça que teria de ir para o hospital, achei sempre que o Francisco iria esperar pelo pai para nascer. Não foi o que aconteceu, quase 3h depois das dores terem começado fui para o hospital. Ninguém imagina como eu me sentia contente, na esperança que poucos dias depois estaria em casa com um bebé nos braços, o bebé que tanto queríamos. 
O sentimento de alegria, em questão de segundos virou tristeza, dor, nunca, mas mesmo nunca pensei que me poderia ter acontecido uma coisa daquelas, passamos nove meses na expectativa de conhecer, e tentar descobrir qual o sentimento ao ver nascer um filho, o primeiro filho, a pessoa que sabemos que teremos amor eterno... Quando ouvi aquele ultra som sem qualquer batida de coração, sem qualquer movimento...
Hoje, eu sei o que é amor de mãe, sei o que é dor de mãe, sei o que é sofrer por um filho. Não o vi, não quis, não o senti nos meus braços, mas senti durante nove meses, senti os movimentos, senti os pontapés, senti amor... E não há como sequer explicar.
Não vou desistir, se ontem eu tinha medo de ter um bebé nos braços, hoje eu tenho a certeza que é o que eu mais quero, e que serei capaz de amar e criar um filho com o maior amor do mundo. Eu sou forte, vai doer, vai doer sempre, vou me lembrar dele todos os dias da minha vida, vou, tal como prometi todos os dias olhar para o céu e vê-lo. Vou amá-lo da mesma forma como amarei os próximos bebés que vierem. Sim, porque agora, tudo o que tenho a fazer é dar um irmão ao Francisco.

Eu vou conseguir, e do meu lado tenho a melhor pessoa do mundo. Não sei o que seria de mim nestes dias sem ti por perto, és a minha força, e sempre que me deixo ir abaixo e me abraças eu não me sinto sozinha, e sei que estarás sempre do meu lado. 
Perdemos um filho, ganhamos uma estrelinha.



Francisco Luis Salgado Batista



5 comentários:

Anônimo disse...

Chorei ao ler...
Uma verdadeira mae.....
Sem palavras...

Inês Marques * disse...

Ao ler o texto demonstras ser uma verdadeira mãe, forte e lutadora!
Tudo aquilo que viveste foi muitoooooo bom embora com um "final" inesperado.
mas tal como tu própria disseste, não desistas! Serás uma mãe excelente! Desejo-te toda a felicidade do mundo! Beijinhos*
ps. Aproveito desde já, paara dizer que adoro o teu blog. Continua assim! :)

samuel disse...

..... Não sinto nem um pouco da dor, da tua dor, da vossa dor de pais, mas acredita que do fundo do coração sinto uma DOR, a dor de ter perdido um sobrinho a dor de ter falhado, a dor e sentimento de culpa e esse tbm ninguem mo vai tirar, hoje tudo é dificil, hoje tudo é diferente, mas o que é certo, é que tu perdeste o que mais querias, tu ficas te a perder, tu sofres, tu mais que ninguem....E isso faz de ti aquilo que no fundo no fundo eu e toda tua familia sabe que és, uma guerreira... Choro quando a Nair me pergunta pelo Kikinho, choro quando venho ao teu blog e vejo tudo isto que escreves, mas acima de tudo choro pelas burrices que "fomos" e "vamos" cometendo, sem nos apercebermos que de nada valem...
Acredita que eu vou sempre estar aqui, sempre... ;(

samuel disse...

..... Não sinto nem um pouco da dor, da tua dor, da vossa dor de pais, mas acredita que do fundo do coração sinto uma DOR, a dor de ter perdido um sobrinho a dor de ter falhado, a dor e sentimento de culpa e esse tbm ninguem mo vai tirar, hoje tudo é dificil, hoje tudo é diferente, mas o que é certo, é que tu perdeste o que mais querias, tu ficas te a perder, tu sofres, tu mais que ninguem....E isso faz de ti aquilo que no fundo no fundo eu e toda tua familia sabe que és, uma guerreira... Choro quando a Nair me pergunta pelo Kikinho, choro quando venho ao teu blog e vejo tudo isto que escreves, mas acima de tudo choro pelas burrices que "fomos" e "vamos" cometendo, sem nos apercebermos que de nada valem...
Acredita que eu vou sempre estar aqui, sempre... ;(

Unknown disse...

Sabes qual a minha opinião sobre escrever, por isso mesmo é que estou a comentar. De muitas coisas que já li talvez este texto seja o mais verdadeiro. Demostrando o quanto lutadora e forte tu és. Não imagino o que passaste e o que passas mas espero que um dia que a vida me traga obstáculos eu consigo me apegar a algo como tu fizes-te. Tenho a certeza que ainda vais ser muito feliz por que tu mereces. 😊 beijinhos
Jessica Azevedo